DEPOIS DO ENSAIO, NORA, PERSONA
Sesc Avenida Paulista
Temporada: até 23 de junho
Espetáculos: de quinta-feira a sábado às 19 horas e domingo às 17 horas
Apresentação extra: quarta-feira dia 19 às 19 horas
Lugares não numerados
Duração aproximada: 230 minutos (intervalo de 15 minutos)
Tenho genuína veneração por Bergman, meu cineasta favorito. Vi várias montagens e adaptações cinematográficas de “Casa de Bonecas”, de Ibsen. Realmente me pergunto com extrema curiosidade como seria assistir a esta nova “mise-en-scène” de José Fernando Peixoto de Azevedo sem nunca ter tido contato com as matrizes originais.
Certamente a encenação mais convincente é a de DEPOIS DO ENSAIO, mais depurada, sem excessos de recursos audiovisuais e que tem o enorme trunfo de reconfirmar o absurdo talento de Rodrigo Scarpelli, um ator com uma imensurável gama de recursos. Os matizes de sua fala são um verdadeiro assombro, capturando integralmente a atenção do público.
No original bergmaniano o encenador Henrik Vogler está ensaiando “O Sonho”, de August Strindberg, mas aqui a peça é trocada pela obra de Ibsen, justificando a montagem de seu texto. Em ambos os casos, no entanto, Henrik tem embates com sua jovem atriz Anna bem como com sua mãe Rakel (ótima atriz, cujo nome não soube infelizmente identificar com seguranca) —- uma antiga paixão sua —- que, embora morta, reaparece em cena. Fala-se sobre a criação artística, sobre o exercício do ofício nessa área (diretor/intérprete).
A encenação de NORA (a protagonista de “Casa de Bonecas”) talvez padeça um tanto do excesso de recursos audiovisuais, que por um lado ampliam as possibilidade de fruição da cena e por outro desconcentram de sua essência. Não me sinto seguro de que os espectadores (que não conhecem o texto) entendam com clareza o enredo e sequer que se dêem conta de que ao final NORA abandona definitivamente o lar famíliar. Também o ritmo demasiado frenético prejudica a absorção e impede que se instale um clima adequado.
Um parêntese: ao estrear em 1879, essa atitude da protagonista foi um grande impacto e motivo de escândalo e censura nas sociedades norueguesa e europeia. Em 1971, Cecíl Thiré dirigiu sua mãe Tônia Carrero nesse papel: ao partir, Nora batia violentamente a porta e todo o cenário ao fundo literalmente vinha abaixo.
O segmento NORA tem também como destaque o ator Daniel Tonsig como o marido: amoroso, insidioso, manipulador, mas que a vê como uma propriedade.
O terceiro tomo, PERSONA, é o menos bem-sucedido e, ainda uma vez, quem viu o filme pode estabelecer comparações e acompanhar com interesse a forma como Peixoto de Azevedo recria não só os episódios do filme praticamente passo a passo, mas também os recursos narrativos.
Lá estão a emudecida atriz Elisabet Vogler (notem o sobrenome comum a duas personagens) e a paciente enfermeira Alma; a introdução com fotogramas esparsos e dispersos de películas; o menino que toca a imagem de um rosto feminino com a mão —- já o garotinho que coloca os óculos e, neste caso, lê o livro “Um Herói de nosso Tempo”, de Mikhail Liermontov, salvo engano, recorda-me muito mais o menino do filme “O Silêncio” —- ; as rochas da praia na ilha; o episódio do caco de vidro; a trilha sonora correspondente (de Muato) e todos os demais detalhes.
Se no filme há uma concentração, uma densidade, um aprofundamento, aqui tudo fica rarefeito, beirando o superficial. O diretor não consegue imprimir (ou talvez nem pretenda) a atmosfera de um “teatro de câmara”, que seria mais pertinente. Embora criteriosa, não me parece que a transposição para o palco se justifique.
Não estou afirmando, mas me pergunto: seria o fato das personagens serem interpretadas por atrizes negras uma razão suficiente? As imagens (aos cuidados de André Voulgaris) são quase onipresentes e o recurso do “chroma key” é inegavelmente instigante. Seriam as plateias jovens mais receptivas a essa abundância de elementos da linguagrem cinematográfica numa montagem teatral?
Provavelmente. A louvar a existência de um programa impresso com vários bons textos! Um espetáculo de fôlego (também para o espectador, pela duração) que, apesar dos desacertos, merece ser conhecido.
Luiz Gonzaga Fernandes
1) AGNES VAI MORRER
(Agnese va a Morire)
Direção:Giuliano Montaldo
Cine-teatro Denoy de Oliveira
Única exibição nesta segunda-feira dia 10/6
Um belo filme sobre os “partigiani”! Ingrid Thulin, bem longe dos conflitos existenciais bergmanianos, convence inteiramente como a “vera signora campesina”. Que atriz!!!
2) HILDA E CAIO
Para quem AINDA não viu este belo espetáculo mais 4 oportunidades com entrada franca (ingressos 1 hora antes):
Teatro Cacilda Becker às 21 horas dos dias 12 e 26
Teatro Alfredo Mesquita às 21 horas do dia 19
Centro Cultural da Diversidade (rua Lopes Neto, 206 – Itaim Bibi) às 20 horas do dia 22
3) Filme + Livro = Sessão Debate
Belas Artes sala 6
Terça-feira dia 11 às 19h30
A ORDEM DO TEMPO
(L’ Ordine del Tempo)
Direção: Liliana Cavani
4) MOSTRA ANDREI TARKOVSKY
Belas Artes sala 6
Período: de 13 a 19/6
Embora não inclua NOSTALGIA e O SACRIFÍCIO (meus favoritos) , tem o esplendoroso ANDREI ROUBLEV (obrigatório para quem eventualmente ainda não conhece), além de A INFÂNCIA DE IVAN, STALKER, O ESPELHO e o único que não me empolga: SOLARIS (heresia! prefiro a versão de Steve Sodderberg com George Clooney!).