Os cortes de gastos sociais e a desvalorização dos servidores públicos não são apenas números em planilhas. Eles representam uma escolha política do governo Lula que compromete a vida dos trabalhadores e o futuro do país.
A recente contenção do orçamento e o anúncio de um pacote de medidas de austeridade reafirmam uma política econômica voltada aos interesses dos banqueiros, das multinacionais e do agronegócio, a exemplo do arcabouço fiscal e da reforma tributária.
Este artigo do Sindsef-SP apresenta os impactos dessas políticas e convoca todos os trabalhadores e as trabalhadoras para a luta unificada em defesa de seus direitos e da população brasileira.
Cortes de gastos em tempos de recorde de arrecadação: Uma contradição insustentável
Apesar do recorde histórico na arrecadação de tributos, o governo federal impôs mais cortes orçamentários neste ano de 2024, com previsão de novos cortes para os próximos anos. Esses bloqueios atingem diretamente áreas fundamentais como saúde, educação e meio ambiente, enquanto o Sistema da Dívida consome mais de 40% do orçamento federal. A argumentação de que falta dinheiro para investimentos é falaciosa, pois o problema não está nos gastos sociais, mas na manutenção de um sistema que prioriza juros abusivos e o pagamento de títulos públicos.
A contradição é evidente. Entre janeiro e outubro de 2024, a arrecadação federal alcançou R$ 2,21 trilhões (em valores corrigidos pela inflação), registrando um crescimento real de 9,8% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Em outubro, o montante arrecadado foi de R$ 247,9 bilhões, também recorde para o mês desde o início da série histórica em 1995. Como justificar cortes tão severos em um cenário de arrecadação crescente e robusta?
Grande parte dessa arrecadação foi decorrente de medidas adotadas pelo governo em 2023, como a tributação de fundos exclusivos, “offshores” e subvenções concedidas por estados, além da retomada da tributação de combustíveis. Mesmo assim, o discurso oficial insiste em priorizar o cumprimento de metas fiscais às custas de áreas sociais.
O bloqueio de mais de R$ 6 bilhões no orçamento, elevando o total de cortes para R$ 19,3 bilhões em 2024, foi anunciado pelo governo Lula em 22 de novembro. Em paralelo, estima-se um “pacote de maldades” para 2025 e 2026, com redução de benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o abono salarial. Essas medidas, justificadas pelo arcabouço fiscal, reforçam o arrocho contra a classe trabalhadora, afetando especialmente as pessoas mais empobrecidas.
As novas medidas anunciadas pelo governo, como o teto de 0,6% para reajustes reais a partir de 2027, são um ataque direto aos direitos dos servidores. Além disso, gatilhos fiscais limitam benefícios tributários e congelam aumentos em caso de déficit, aprofundando as desigualdades no funcionalismo público.
Suspensão do pagamento da dívida, já!
O Sistema da Dívida é o grande vilão do orçamento público brasileiro. Ano a ano ele segue absorvendo recursos que poderiam ser investidos em áreas sociais. Uma auditoria integral e com ampla participação popular pode expor as falácias desse sistema e abrir caminho para a redistribuição justa dos recursos.
Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, durante 20 anos, o Brasil acumulou R$ 1 trilhão de superávit primário, mas a dívida interna saltou de R$ 86 bilhões para R$ 4 trilhões nesse período. Esse cenário demonstra que o crescimento da dívida não decorre de investimentos públicos, mas de juros abusivos e práticas financeiras prejudiciais. A auditoria é essencial para desmascarar esse esquema e a suspensão do pagamento é fundamental para garantir um futuro digno para a população.
Pacote de maldades detalhado
O pacote de cortes de gastos anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é uma tentativa do governo federal de economizar R$ 30,6 bilhões em 2025, com um impacto total projetado de R$ 332,8 bilhões até 2030. As medidas, que ainda dependem de aprovação do Congresso, abrangem ajustes no salário mínimo, restrições orçamentárias, alterações em benefícios sociais e mudanças em políticas públicas.
Embora o governo justifique o pacote como necessário para equilibrar as contas públicas, as medidas representam o aprofundamento do desmonte dos serviços públicos, redução de direitos sociais e trabalhistas, além da defasagem salarial.
A mudança na política de valorização do salário mínimo é uma das principais medidas. O reajuste passará a ser limitado a um crescimento real entre 0,6% e 2,5% ao ano, o que, embora alivie as contas públicas, compromete a renda de milhões de brasileiros dependentes de aposentadorias e benefícios atrelados ao piso nacional. Projeções indicam que, em 2030, o salário mínimo será R$ 94 menor que o previsto pela regra atual.
Outras medidas polêmicas incluem o redirecionamento de parte dos recursos do Fundeb para ações de tempo integral, a flexibilização dos repasses da Lei Aldir Blanc e mudanças nos critérios do BPC e do abono salarial, restringindo o acesso e reduzindo o alcance social desses programas. No campo da educação e da ciência, a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) até 2032 é vista como uma ameaça ao financiamento de áreas prioritárias.
No âmbito dos militares, o governo propõe aumentar a idade mínima para aposentadoria e implementar ajustes progressivos. Já para as emendas parlamentares, será permitido o bloqueio de até 15% em caso de alta nas despesas obrigatórias, enquanto emendas não obrigatórias terão crescimento limitado à inflação.
Essas medidas refletem um esforço de contenção fiscal que, embora traga alívio às contas públicas, coloca em xeque investimentos em áreas fundamentais como educação, saúde e proteção social. A ausência de consenso no Congresso e as resistências de diversos setores da sociedade evidenciam os desafios políticos e sociais que o pacote enfrentará para ser implementado.
A seguir, apresentamos as principais medidas detalhadas.
Medida | Descrição | Impacto 2025 (R$ bilhões) | Impacto 2025-2030 (R$ bilhões) | Instrumento legal |
Salário mínimo | Mudança na política de valorização para limitar o ganho real a 0,6%-2,5% ao ano. | 2,2 | 109,8 | PL |
Fundeb | Até 20% da complementação da União serão usados para ampliar matrículas em tempo integral. | 4,8 | 42,3 | PEC |
Emendas | Bloqueio de até 15% e limite para crescimento conforme arcabouço fiscal. | 6,7 | 39,3 | PLP |
DRU | Prorrogação até 2032 para uso livre de 30% de receitas vinculadas. | 3,6 | 25,6 | PEC |
Abono salarial | Congelamento do critério em R$ 2.640, corrigido apenas pela inflação, até 1,5 salário mínimo. | 0,1 | 18,1 | PEC |
Bolsa Família | Reforço na fiscalização, restrições para famílias unipessoais e atualização obrigatória. | 2 | 17 | PL |
FCDF | Correção do Fundo Constitucional do DF pelo IPCA. | 0,8 | 16 | PL |
Biometria | Inscrição obrigatória para Bolsa Família e BPC. | 2,5 | 15 | PL |
Subsídios e subvenções | Ajuste de 10% em subsídios. | 1,8 | 12,8 | PEC + PL |
BPC | Mudanças nas regras de concessão, incluindo cônjuge e renda de outros familiares no cálculo. | 2 | 12 | PEC + PL |
Lei Aldir Blanc | Repasse condicionado à execução de recursos no ano anterior. | 2 | 7 | MP |
Militares | Criação de idade mínima de 55 anos para aposentadoria, de forma progressiva. | 1 | 6 | PL |
Concursos públicos | Faseamento de provimentos em 2025. | 1 | 6 | Ato de gestão |
Pé-de-meia | Política bancada com fundos em 2025, com inclusão no Orçamento em 2026. | ND | ND | – |
Supersalários | Restrição de exceções ao teto remuneratório. | ND | ND | LC |
Incentivos tributários | Impedimento de novos subsídios em caso de déficit. | ND | ND | PLP |
Auxílio gás | Regras vinculadas ao tamanho da família; recursos já no Orçamento. | ND | ND | PL |
O que não avançou
– Mudanças no seguro-desemprego.
– Flexibilização dos pisos de saúde e educação.
– Desvinculação entre o BPC e o salário mínimo.
– Limitação de gastos com seguro-defeso.
– Corte de despesas discricionárias em saúde e educação.
– Alteração nas regras do Simples Nacional.
Siglas:
– PEC: Proposta de Emenda à Constituição
– PLP: Projeto de Lei Complementar
– PL: Projeto de Lei Ordinária
– MP: Medida Provisória
– LC: Lei Complementar
– ND: Não detalhado
Basta de ataques aos direitos sociais! Prisão a todos os golpistas!
O Sindsef-SP e a CSP-Conlutas se posicionam contra o arcabouço fiscal, os cortes de direitos e a agenda autoritária que precariza ainda mais as condições de vida da classe trabalhadora.
Defendemos a punição aos golpistas e reforçamos a luta contra a retirada de direitos, como a reforma da Previdência e os ataques ao salário mínimo, abono salarial, seguro-desemprego e benefícios sociais.
Destacamos a necessidade de incorporar pautas como o fim da escala 6×1, a defesa da redução da jornada sem redução de salário e o repúdio à criminalização da juventude e da população negra nas periferias do Brasil.
Unidos e organizados, podemos derrotar tanto as políticas neoliberais do governo quanto o projeto autoritário da ultradireita.
- Sem anistia! Prisão para Bolsonaro e todos os golpistas!
- Não aos cortes no salário mínimo, abono salarial, BPC e áreas sociais!
- Abaixo o arcabouço fiscal!
- Pela aprovação da PEC do fim da escala 6×1!
- Criança não é mãe! Estuprador não é pai! Não à PEC 164!