Itália/Bélgica – 2023 – 113 minutos
Em cartaz nos cinemas:
Itaú Augusta – sala 2 | Frei Caneca – sala 3 | Belas Artes – sala 3
Trailer Legendado: https://www.youtube.com/watch?v=vLTU_328Trg&t=11s
Ao som de “Tristão e Isolda”, de Wagner, em 2011, o polêmico cineasta dinamarquês Lars von Trier apresentou seu perturbador filme “Melancolia”, onde o planeta Melancholia se aproximava para uma catastrófica e apocalíptica colisão com a Terra. Agora, aos 91 anos —- e sem filmar desde “O Retorno do Talentoso Ripley”, de 2002 —-, a também polêmica diretora Liliana (Il Portiere di Notte) Cavani nos oferece esta obra com uma situação-base semelhante, pois o asteróide Anaconda (kkk) também caminha para colidir com nosso planeta. Fora isso, são obviamente realizações completamente distintas: a “pegada” de von Trier era metafísica, psicanalítica, densa. Cavani e seu co-roteirista Paolo Costella ficcionalizam um ensaio teórico do cientista (físico quântico) Carlo Rovelli, autor de vários livros publicados (no Brasil, inclusive).
Aqui um grupo de amigos de meia-idade reúne-se numa “villa” à beira-mar “far from the madding crowd” para comemorar o quinquagésimo aniversário de Elsa (Claudia Gerini). Ela e o marido Pietro (Alessandro Gassmann) são os anfitriões perfeitos, mas é com a chegada do relutante Enrico (Edoardo Leo), um físico profissional, que o grupo tomará conhecimento da eminente catástrofe.
Certa vez Ingmar Bergman ponderou que “há filmes não exatamente bons, mas que mesmo assim são prazerosos de se assistir”. Seria talvez o prisma adequado para minha apreciação aqui: a revelação de uma provável extinção da humanidade gera uma dose acentuada de franqueza nas confissões, abandonando falsos subterfúgios de anos. Mas “attenzione’!: ainda que não sejam toscas, as personagens pertencem claramente “alla borghesia” e não escapam ou sequer escamoteiam suas frivolidades.
A breve visita que uma das personagens, Giulia (Francesca Inaudi) faz a uma amiga bem mais velha, suor Raffaella (Angela Molina!!!), num convento, propicia um outro enfoque dos acontecimentos pelo ângulo da fé e não da ciência. O isolamento do grupo favorece que pouco se saiba das reações da humanidade diante dessa funesta e mortal perspectiva: caos e histeria coletiva seriam de se esperar.
Cavani opta por ater-se às relações afetivas. Com bonita fotografia de Enrico Lucidi, montagem precisa de Massimo Quaglia e um competente elenco, acompanhamos o filme com prazer e interesse sem contudo levá-lo “sul serio” inteiramente. Suponho que ninguém deixará de envolver-se com a tocante sequência em que os amigos dançam juntos ao som de Leonard Cohen cantando “Dance me to the End of Love”. O título esteve na competição oficial da Mostra de Veneza e fez parte da seleção do Festival do Rio de 2023.
Luiz Gonzaga Fernandes
A ordem do tempo, drama italiano de Liliana Cavani, retrata um grupo de amigos que anualmente se reúne para celebrar um aniversário; nesse ano, porém, o clima de celebração divide espaço com reflexões e receios com a chegada da notícia de que o mundo acabará em menos de 24 horas.