Impressionante quando chegamos a um tempo em que o suposto controle se torna o seu oposto. Lembranças vagueiam bêbadas e sem rumo dentro de mim, e um desejo profundo que tudo seja apenas um ato rumo ao esquecimento. Não se trata de fugir de mim, mas de uma tentativa louca de me encontrar nesta existência, onde o passado não seja nada mais do que um sopro que ficou para trás. Não, infelizmente, não é assim, pois carrego muito de tudo e de todos dentro de mim.
Por que estou aqui? Será que é para me adaptar ou revolucionar? Aceitar ou contestar? Ah não posso me sujeitar. Não me diga como devo agir ou como devo ser. Este é o teu desejo e não o meu. Não me enquadre, não me limite. Como é duro existir, pior ainda quando se é mulher.
É mais fácil julgar e traçar um estereótipo do que ouvir as ideias que partem de cada ser. A reflexão requer esforço, requer rupturas de barreiras e de ideias. Ah como é difícil pensar! Não me sujeito aos limites e espero muito mais da vida.
Não vim aqui para reproduzir o que esperas de mim. Não sou o teu molde. Sou um ser que reivindica a necessidade de superação de mim e de ti. Um ser que pode te levar a pensar para além do que está acostumado e treinado a fazer. Um ser disposto a conhecer o que está supostamente escondido, escrever uma história nesse papel branco que tenta me apresentar e que não tem qualquer sentido para mim.
Não me submeto a tua vontade apenas para te satisfazer. Não me redimo para fazer parte do teu grupo. Não me ajoelho diante da tua vontade e da tua forma estreita de enxergar a vida e o mundo. Não vim aqui para te satisfazer.
Sou, por isso, um ser errante, que não procura um caminho em linha reta, mas aquele que busca nas curvas o verdadeiro sentido do ser. Não, a vida não é uma linha reta como tentas me ensinar, não é o que pensas que pode traçar e controlar. Me deixe fora disso. As curvas me ensinam mais do que a tua capacidade estreita de enxergar.
Carrego muitas marcas, que não se limitam apenas ao meu passado vivido, mas aos que vieram bem antes de mim. Carrego a força e a dor daqueles que nasceram bem antes de mim. Trago tudo dentro de mim e quero romper a barreira do não ser, do não existir que tentas me imprimir.
Não estou aqui para levar a paz, trago em mim a tempestade e o amor. Não, nada em mim existe como um peso, nada existe como certeza, a minha existência se resume a um desejo profundo por mudanças em mim e em você, e no mundo que nos cerca. Carrego o vento e a calmaria, carrego o sonho e o desespero, carrego o amor e a falta de perspectiva, carrego todos vocês, não como seres estáticos, mas como seres em transformação, assim como o mundo a nossa volta.
Não caminho só! Se não me entendes, siga a tua linha reta, pois ei de me envolver nas curvas íngremes desta linda estrada e quem sabe sem ponto de chegada, eis que outros também irão percorrê-las sem mim.
Me deixe! Apenas siga a tua caminhada, pois seguirei as minhas curvas para além de ti e de mim!
Beth Lima
14/02/2021