A administração pública federal ainda reflete uma realidade preocupante em termos de igualdade de gênero, conforme noticiado pelo jornal Extra online. Dados do Observatório de Pessoal da União mostram que os homens ainda compõem a maior parte do quadro, representando 54,6% dos servidores, enquanto as mulheres ocupam 45,4% das vagas. Essa disparidade se torna ainda mais evidente nos cargos de direção e assessoramento, onde apenas 42% das posições são ocupadas por mulheres, enquanto 58% continuam nas mãos dos homens.
A falta de equidade salarial também persiste. Embora as servidoras federais recebam, em média, R$ 10.089,45, os homens têm uma remuneração média de R$ 11.580,67. Mesmo com a presença feminina em crescimento, especialmente em novos concursos entre 2018 e 2023, onde elas ocuparam 53,6% das vagas, o avanço é insuficiente e restrito a algumas áreas.
A insuficiência das políticas de inclusão
O governo federal tem adotado algumas medidas para tentar reduzir essa desigualdade, mas os resultados ainda são tímidos e não atacam a raiz do problema. Segundo Daniela Gorayeb, chefe da assessoria de diversidade e participação social, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) promove políticas de inclusão para as mulheres, porém, essas ações não têm sido suficientes para alterar significativamente o cenário, principalmente em termos de liderança.
Embora a capacitação e o empoderamento das servidoras sejam essenciais, falta o que realmente faria diferença: a abertura de novos concursos públicos e a criação de uma política mais robusta de incentivo à mobilidade e à ascensão das mulheres. Sem novas oportunidades e sem uma reestruturação que combata as barreiras impostas pelo machismo institucionalizado, as mulheres continuam encontrando dificuldades para progredir na carreira.
Machismo e assédio ainda são grandes obstáculos
Além de enfrentar uma representação desproporcional, as servidoras públicas lidam com barreiras cotidianas como assédio moral e sexual, que muitas vezes são negligenciados pelos próprios órgãos governamentais. A criação de grupos de trabalho para discutir o assédio é um passo, mas não basta. O combate ao machismo e às práticas abusivas precisa ser intensificado e tratado como uma prioridade, com punições exemplares e políticas de prevenção eficazes.
A realidade vivida pelas mulheres negras é ainda mais alarmante. Um estudo do Movimento Pessoas à Frente revela que, apesar de constituírem 28% da população, as mulheres pretas e pardas ocupam apenas 15% dos cargos de liderança no serviço público. Nas funções de alta liderança, a desigualdade se acentua ainda mais: mulheres negras ocupam somente 11% dos postos, enquanto 26% são de mulheres brancas. Sem políticas que assegurem uma participação mais justa e equitativa, essas mulheres continuam à margem do poder decisório.
Liderança feminina: avanços tímidos e inconsistentes
Embora o governo tente apresentar algumas conquistas, como o aumento da presença feminina em cargos de direção e assessoramento no Ministério da Gestão e da Inovação (MGI), que passou de 13,1% para 50,9% entre 2019 e 2024, esses números não refletem uma transformação estrutural. O crescimento ocorreu principalmente em função da criação de novos cargos comissionados, e não da ampliação de oportunidades por meio de concursos públicos regulares.
Em outros ministérios, como o do Trabalho e Emprego e a Controladoria-Geral da União, o aumento na participação feminina foi de apenas 13,2% e 10,2%, respectivamente. A progressão, quando ocorre, é lenta e cheia de entraves, reforçando que as mudanças promovidas pelo governo não atingem a profundidade necessária para romper de fato com o ciclo de exclusão.
A urgência de ações concretas e mais abrangentes
Em entrevista ao Extra, Vanessa Campagnac, gerente de dados do Instituto República.Org, destaca que, embora a participação feminina tenha crescido no serviço público, a representatividade em posições de liderança continua abaixo do esperado.
Além disso, as mulheres enfrentam desafios contínuos para se manterem nessas posições, lidando com obstáculos como o assédio moral e sexual, além da sobrecarga do trabalho doméstico e familiar. Jessika Moreira, diretora executiva do Movimento Pessoas à Frente, destaca que essas barreiras agravam as dificuldades das servidoras públicas, dificultando ainda mais sua permanência e ascensão dentro da administração pública.
Em 2023, a presença feminina em cargos de alta liderança atingiu 38%, o maior índice desde 1998, mas isso ainda está muito distante da paridade de gênero desejada e necessária. O Brasil ainda carece de políticas públicas efetivas que garantam equidade de gênero no serviço público. Sem uma abordagem mais ampla, que inclua a abertura de novos concursos, o enfrentamento rigoroso ao assédio e o combate ao machismo, o cenário de desigualdade tende a persistir.
O caminho para uma verdadeira igualdade
Embora o governo atual tenha retomado as políticas públicas voltadas à promoção da igualdade de gênero, especialmente nas ações direcionadas às servidoras da Administração Pública Federal, os resultados são insuficientes. Exemplos como o Concurso Nacional Unificado (CNU), em que 56,2% dos inscritos foram mulheres, mostram que a disposição feminina em participar está presente, mas a ausência de políticas transformadoras ainda limita sua ascensão.
Se o governo realmente deseja enfrentar as desigualdades de gênero no serviço público, é preciso ir além de medidas superficiais. A criação de novas vagas, a garantia de condições de trabalho dignas e a promoção de políticas que combatam de maneira incisiva o assédio e o machismo são urgentes e inadiáveis.
Com informações do jornal Extra (RJ).