Crise de saúde mental no trabalho atinge recorde de afastamentos no Brasil

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Mulheres são as mais afetadas diante da sobrecarga de trabalho. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Um levantamento exclusivo feito pelo portal G1, junto ao Ministério da Previdência Social, traz à tona o quadro de crise de saúde mental que afeta os trabalhadores e trabalhadoras no país. Em 2024, foram concedidas 472.328 licenças médicas pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em razão de transtornos mentais, o maior número em pelo menos dez anos.

Os dados representam um crescimento de 68% em relação ao ano anterior, quando 283 mil afastamentos foram registrados por esse motivo. As principais causas de afastamento foram por ansiedade e depressão.

De acordo com o levantamento, a lista de motivos de afastamentos, inclui 141.414 por ansiedade; 113.604 por depressão; 52.627 por depressão decorrente; 51.314 por transtorno bipolar; 21.498 por vício em drogas; 20.873 por reações ao stress grave e transtornos de adaptação; 14.778 por esquizofrenia; 11.470 alcoolismo e 6.873 vício em cocaína.

Segundo o G1, os dados representam afastamentos e não trabalhadores. Isso porque uma pessoa pode tirar mais de uma licença médica no mesmo ano e esse número é contabilizado mais de uma vez. Ainda de acordo com a reportagem, o burnout não está na lista. No ano passado, foram 4 mil afastamentos por esse motivo.

Para especialistas consultados pelas jornalistas Poliana Casimiro e Rayane Moura, o número expressivo de afastamentos evidencia a gravidade do problema, que reflete as condições de trabalho e também as mudanças sociais e econômicas dos últimos anos.

Entre os fatores que impulsionam esse cenário, além da intensificação da pressão nos locais de trabalho, estão o aumento do custo de vida, o luto pós-pandemia e a insegurança financeira. Especialistas também apontam que estamos vivenciando a chamada “quarta onda da Covid-19”, caracterizada pelas sequelas emocionais deixadas pela pandemia.

Mulheres mais afetadas

Os dados revelam um perfil predominante entre os trabalhadores afastados: a maioria é mulher (64%), com idade média de 41 anos, e diagnosticada com quadros de ansiedade e depressão.

Esse dado não é casual, mas resultado de fatores estruturais que sobrecarregam as mulheres, apontam também os especialistas consultados. Elas são maioria entre as responsáveis pelo sustento da família (49,1% dos lares são chefiados por mulheres) e enfrentam desigualdades salariais, sobrecarga no trabalho e pressão social para conciliar carreira e responsabilidades domésticas.

O problema também se manifesta de forma regionalizada. Os estados mais populosos, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, lideram o número total de afastamentos. No entanto, quando analisado proporcionalmente à população, os estados com os maiores índices são o Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Mudança na NR-1 e fiscalização

Em agosto do ano passado, o governo federal anunciou a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece diretrizes para saúde e segurança no ambiente de trabalho.

A nova regra amplia a fiscalização sobre riscos psicossociais, como metas excessivas, jornadas extensas, assédio moral e condições precárias de trabalho. A fiscalização priorizará setores com maior índice de adoecimento mental, como teleatendimento, bancos e estabelecimentos de saúde e as empresas que não adotarem medidas corretivas poderão ser multadas.

No entanto, o país enfrenta um cenário de déficit de fiscais do trabalho. Segundo o Sinait (Sindicato Nacional dos Fiscais do Trabalho), há cerca de 1.900 auditores em operação. Segundo parâmetros da OIT (Organização Internacional do Trabalho), um país da dimensão do Brasil deveria ter cerca de 5,500 servidores na função.

O capitalismo adoece física e mentalmente

Por ocasião do mais recente Dia Mundial de Combate às LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos e Doenças Osteomusculares relacionadas ao Trabalho), no último dia 28/2, a CSP-Conlutas evidenciou que as doenças ocupacionais também têm relação direta com o adoecimento mental dos trabalhadores.

“Existe uma relação explícita entre as lesões físicas e o sofrimento mental. Os distúrbios emocionais no ambiente de trabalho podem se derivar da sobrecarga de trabalho, ambiente precarizado e assédio moral, ocasionando sentimento de frustração, desvalorização pessoal, insônia, perda ou aumento de apetite, ansiedade e depressão”, explicou a psicóloga Sandra Moreira, integrante do Setorial Saúde do Trabalhador da CSP-Conlutas.

Outro aspecto destacado foi os efeitos da escala de trabalho 6×1, que por sua jornada exaustiva, também é fonte para o adoecimento mental da classe trabalhadora no país, especialmente a juventude e mulheres.

Para nossa Central, é preciso combater as situações que causam o adoecimento mental da classe trabalhadora e, acima de tudo, esse sistema capitalista, cuja lógica se baseia na superexploração cada vez maior de nossa classe.

Informações: G1. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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